terça-feira, 29 de outubro de 2013

Língua Gestual para bebés

A língua gestual é uma ferramenta pouco conhecida mas extraordinária para os bebés e cuidadores. Como é óbvio é uma das principais vias de comunicação dos bebés com dificuldades auditivas ou surdez mas poderá também ser um meio de comunicação privilegiado nos bebés pré-verbais normoouvintes. Se pensar, recordar-se-á que o dizer adeus acenando surge bastante mais cedo do que a palavra adeus. Assim, facilmente compreendemos que o bebé comunicará mais cedo através de gestos e que se lhe ensinarmos os gestos das palavras que terão mais utilidade num futuro próximo mais facilmente conseguiremos perceber o que o bebé nos pede ou o motivo do seu desconforto.

Por exemplo, um gesto a introduzir desde cedo poderá ser aquele que representa o leite. Se der o biberão poderá associar a imagem, a palavra e o gesto… no final de algumas semanas irá facilmente perceber que quando faz o gesto o bebé já o compreende, da mesma forma que percebe que o biberão representa o leite, irá perceber que é hora de mamar. Se amamentar fará exactamente o mesmo na hora em que coloca o bebé ao peito.

Quanto mais cedo iniciar esta prática melhor, também o cuidador terá de se ambientar a esta rotina caso contrário facilmente se esquecerá de associar o gesto à acção ou objecto. Muitos pais começam por volta dos 6 meses, altura em que o bebé estará mais receptivo.
Os benefícios da utilização da língua gestual passam pela redução da frustração, dado que o bebé consegue pedir o que pretende mais cedo, o aumento da confiança por conseguir se expressar e ser compreendido, e segundo investigações recentes pelo melhor desenvolvimento do vocabulário oral. Para os pais é um auxílio poderoso na compreensão das pistas do bebé.
Os primeiros gestos a associar às palavras poderão ser leite, água, mais, dormir, dor ou outras que os pais considerem mais pertinentes.



Recorde-se que o gesto não é mais do que um estímulo visual pelo que deverá ter o bebé disponível, interessado e em contacto visual. Não escolha mais do que 5 gestos inicialmente, caso contrário será demasiada informação o que poderá confundir o bebé. Não se esqueça que só a repetição garante a aprendizagem, por isso sempre que disser a palavra faça também o gesto.


Não fique demasiado ansioso pelos resultados, habitualmente só alguns meses após a sua introdução é que os bebés começam a reproduzir os gestos e de forma pouco coordenada. Não seja demasiado exigente. Mais uma vez, esteja atento às pistas, quando o bebé estiver pronto para começar a língua gestual não deixe de elogiar os pequenos esforços.

Esta menina, Kiki, tem apenas 11 meses. Veja o vídeo:


Quando iniciar a sua aprendizagem recorde-se que a nossa é a Língua Gestual Portuguesa. No youtube encontrará vários vídeos que o poderão auxiliar como o que seleccionamos para o gesto “leite”. 

domingo, 27 de outubro de 2013

As pistas, as rotinas e o sono!

Como mãe, a minha perspectiva do desenvolvimento ganha outra forma. Não que antes fosse imaginada porque assisti ao crescimento de muitos bebés, pacientes e familiares, mas porque simplesmente a afectividade que lhe é inerente permite que cada passo seja visualizado com o zoom da alegria e felicidade que é viver o desenvolvimento dos nossos bebés.

Penso que se todos os pais tivessem a informação e formação que tenho seriam muito mais tranquilos quanto ao desenvolvimento dos seus bebés. A variabilidade individual, na universalidade do neurodesenvolvimento, é imensa e aquilo que poderá surgir aos 3 meses num bebé pode surgir noutro aos 2 ou aos 4 meses. Sermos rígidos e aguardarmos pelos marcos de desenvolvimento com a check list à espera de um visto, para além de traduzir a ansiedade que passamos ao bebé, é também sinal da necessidade de repensar as nossas expectativas e mais uma vez adaptarmos a imagem idealizada do bebé para a do real com quem vivemos diariamente.

No nosso caso, foi na semana que completaria os 4 meses que se abriu uma janela de oportunidade, e das valiosas. A das rotinas de sono. E percebendo eu rapidamente as pistas, aproveitei-as como se fossem pedras preciosas. E são! Ditam o primeiro passo da autonomia dos bebés. Numa destas noites a minha filha chorava enquanto a tentava adormecer ao colo, por volta das oito e meia da noite. Estranhei, este já era um hábito estabelecido, entrar no quarto escurecido era suficiente para que o sono ditasse o adormecimento. Confesso que antes de a deitar no berço pensei duas ou três vezes, “será?” No momento que a deitei ficou tranquila, a olhar as imagens que colei no berço e o ursinho que muda de cor e funciona também como luz de presença. Percebendo que era isso que ansiava, sussurrei-lhe “até amanhã, bons sonhos!” Beijei-a, sorriu, nela percebi um olhar de cumplicidade, “percebeste o que eu queria!” Precisava daquele tempo só dela, de fazer um balanço sereno e tranquilo das aprendizagens do dia e perder-se nos contornos dos desenhos e do brilho da luz que a embalaria nos seus primeiros sonhos conduzidos sozinha. Desde então este ritual tem-se mantido e generalizado ao restante sono.

Muitos bebés podem ter esta rotina desde o primeiro dia, depende, cada bebé tem necessidades diferentes. A minha foi aos quatro meses… poderá ser tarde aos olhos de muitos pediatras ou psicólogos. Mas a verdade é que foi no seu tempo, com as pistas ideais para que a compreendesse. Sabia que era uma questão de tempo até que estes pequenos sinais surgissem. O problema surge quando os pais não estão disponíveis para as perceber ou simplesmente não estão suficientemente atentos.

Passa a oportunidade e é certo que o caminho escolhido sendo o errado ditará que mais tarde aquela família terá de arregaçar as mangas e tratar do assunto. Não é desejável que uma criança aos três anos de idade durma na cama dos pais ou precise da presença de um cuidador para que consiga adormecer. Será uma criança mais ansiosa, menos disponível para as aprendizagens e muito dependente do adulto.

Nem oito, nem oitenta. Mas o que mais assisto na minha prática clínica é o oitenta. Crianças de 11 anos que não são minimamente autónomas, extremamente ansiosas que vivem num estado de alerta constante e que realmente sofrem. Elas e os pais, que no entretanto, deixaram de ter também eles uma rotina de sono, este deixou de ser reparador e tranquilo. As rotinas de sono são valiosíssimas, não nos devemos enganar. Ditam a serenidade das noites futuras. Quando exijo aos pais que mudem, que estipulem novas e saudáveis rotinas de sono encontro sempre imensas resistências. Percebo que serão sempre mudanças que causam desconforto, desorganizam a dinâmica em casa mas são tão necessárias como o antibiótico receitado pelo médico.


Não me canso de sublinhar: os bebés dão sempre pistas, comunicam sempre o desconforto pelo choro, mãos fechadas, expressão tensa e respiração ofegante e o conforto pela tranquilidade da sua postura, mãos abertas, respiração pausada e expressão relaxada. Estão em constante relação e por isso, sempre disponíveis para comunicar. Cabe ao adulto ter disponibilidade e vontade de explorar essa interacção.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A importância do apontar (a dois)

Entre os nove e os doze meses de idade, a criança começa a usar o dedo indicador para apontar as coisas que vê e pelas quais tem interesse. Este é um importante marco de desenvolvimento das competências da comunicação e linguagem. Significa que lhe quer mostrar algo, que quer comunicar consigo. Nesta altura converse, descreva o que o bebé aponta. É importante que ele perceba que estão os dois interessados no mesmo.

*


Se aos doze, treze meses o bebé não apontar poderá ser um sinal de alarme para as perturbações do espectro do autismo. Fique atento e estimule o seu bebé. Marcar um rastreio do desenvolvimento será sempre uma boa solução.

*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Comunicação com o bebé pré-verbal: A importância das expressões (2)



Compreender as pistas dadas pelo bebé pré-verbal é fundamental. Não só para o cuidador se sentir seguro bem como para o bebé ver reconhecidas as suas emoções e necessidades.
Responda a todas estas expressões faciais. Todas elas são uma forma de comunicação e portanto pistas que deverão ser aproveitadas. Verbalize a sua interpretação, adaptando o tom de voz e aja em consonância.
1. Raiva: Sobrancelhas próximas e descidas. Olhos fixos, boca tensa.
2. Alegria: Boca esboça um sorriso, bochechas levantadas, brilho nos olhos.
3. Interesse: Sobrancelhas ligeiramente subidas, boca suavemente arredondada.
4. Repulsa: Nariz enrugado, lábio superior levantado, língua ligeiramente para fora.
A raiva surge por volta dos 6 meses de uma derivação da emoção primária desconforto/angústia dos meses anteriores. Alguns autores referem que surge antes, por volta dos 4 meses de idade em resposta a situações desagradáveis ou de restrição. Neste caso verbalize o motivo que provocou esta emoção adoptando uma postura empática mas segura, apontando a solução e não o problema. A partir dos 3 meses, o bebé já pode lidar com a frustração, por curtos períodos de tempo, sem a necessidade de ser reconfortado imediatamente.
A alegria e o interesse são emoções que nos indicam a receptividade e disponibilidade do bebé para novas aventuras e experiências. Aproveite o momento para uma massagem, para estimular a linguagem ou mesmo brincar às expressões. Aos 3 meses o bebé arregala os olhos frequentemente, sendo este um sinal de interesse pelo que está a observar.
Na repulsa, frequentemente associada a experiências de novas texturas, sons, aromas ou sabores tente minimizar o desconforto redireccionando a atenção do bebé.



sábado, 12 de outubro de 2013

Serás certamente uma excelente mãe – Reflexões de uma mãe psicóloga

Os despertares nocturnos para cuidar da minha bebé são, quase sempre e quando o cansaço não é sinónimo de exaustão, promotores de reflexões acerca dos laços que nos unem a pequenos mas tão poderosos seres. Quando lhe guardo o sono muitas vezes pressinto na sua respiração tranquila um número infinito de possibilidades, tudo está em aberto para aquela futura pessoa. São infinitos os caminhos que poderá percorrer. E facilmente penso-a enquanto adulta, segura das suas decisões e opções. Um destes dias pensei, “serás certamente uma excelente mãe”. Como mãe não poderia pensar de outra forma… e recordo-me de me dizerem exactamente o mesmo no hospital, poucas horas após o parto. Eu sei que sou a melhor mãe do universo, do universo da minha filha! Todas as mães o são, simplesmente porque se disponibilizaram a amar e cuidar aquela (especifica) pessoa até ao último dia das suas vidas. E portanto não existem más mães. Poderão existir progenitoras que não se transformaram em mães, ou porque nunca o desejaram, e entregaram os filhos para adopção, ou porque uma doença física ou mental lhes impediu o processo. Estas últimas podem sempre, e em qualquer altura, se tornar excelentes mães, as melhores… para os seus filhos! Basta para isso que sintam vontade, se aventurem no desconforto que algumas mudanças inevitavelmente provocarão, e procurem soluções, possivelmente ajuda para esta transformação. Como psicóloga já vi nascer algumas mães e não existe maior satisfação para um profissional de saúde mental.
*

Acompanho actualmente um menino, o João (nome fictício) com uma perturbação do espectro do autismo. É um menino que não se entrega como os outros, que a comunicação não flui naturalmente e que a disponibilidade para cuidar e deixar-se cuidar é muito baixa. No entanto este menino tem a melhor mãe do mundo! E quis o destino que essa mãe não fosse a sua progenitora. A vida de ambos lá se encarregou de cruzar os caminhos que um e outro teriam de percorrer para encontrar a mãe e o filho. Hoje, apesar dos desafios constantes, não há rigorosamente nada que abale os seus papéis. Muitas vezes insegura, a mãe pede ajuda; muitas vezes questiona se a sua atitude foi a melhor nesta e naquela situação mas em vez alguma desistiu e só não o fez porque é a melhor mãe do universo… do universo do João! Ser mãe é isso mesmo, procurar ajuda e suporte quando é necessário ou quando simplesmente a insegurança “bate à porta”. Deixá-la entrar e instalar-se é que não é solução. Ela é certeira na chave do medo e contamina toda e qualquer relação.

Para ser progenitora basta querer, para ser mãe basta amar. O amor por um filho comporta tudo, todos os esforços, todos os desafios e aventuras. Se é mãe, orgulhe-se porque é a melhor mãe do universo… do seu filho!
* Imagem retirada da Internet


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Comunicação com o bebé pré-verbal: A importância das pistas

A forma como o bebé posiciona as mãos pode ser uma valiosa pista na interpretação do seu estado geral, bem como na adequação da atitude do cuidador.
Pistas indicativas do estado emocional do bebé através da posição das mãos:
1.Estado de alerta activo
2.Estado de alerta irritado/desconfortável
3.Estado de alerta passivo
4.Estado de transição para o sono/sonolência
5.Sono profundo

No estado de alerta activo (1) aproveite para estimular o bebé, interagir e abusar das conversas a dois.
No estado de alerta irritado (2) opte por diminuir o número de estímulos, sussurre palavras de conforto e embale.
No estado de alerta passivo (3) opte por actividades calmas, troque sorrisos, aproveite para cantarolar uma música.
Nos restantes estados diminua significativamente os estímulos e favoreça o adormecimento autónomo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Dica DI!

Muitos pais demonstram dificuldade em identificar os sinais precoces de autismo. Partilhamos um deles!
Aos 9 meses de idade não brincar ao agora-eu-agora-tu com sons e expressões faciais. 


O código de toque de uma mãe psicóloga

Todas as mães com uma profissão ligada ao desenvolvimento infantil ficam simplesmente maravilhadas todos os dias! Porque todos os dias se apercebem das mais ténues pistas que muitas vezes poderão passar despercebidas às outras mães e pais. E enquanto se embala o bebé no colo que tem o exacto contorno que permite o perfeito encaixe com o bebé em muito se pensa. Por vezes não se pensa, é certo… só se aproveita os minutos de silêncio para sossegar o cérebro, que entretanto foi reprogramado para dar resposta a todas as necessidades daquele tão pequeno e adorado ser.  Mas quando se divaga e se percorre rapidamente o dia fazendo o balanço para o encerrar, surgem algumas conclusões. E inevitavelmente pensamos em muitas questões do desenvolvimento dos nossos filhos. No meu caso em particular, essas questões não se prendem com angústias e preocupações mas pelo contrário pelo fascínio de encontrar nas ténues pistas a chave perfeita à luz dos mais adorados especialistas desta área. Muitas vezes este é o mote para as nossas próprias reflexões enquanto profissionais. Foi num destes momentos que me surgiu o que designei desde então “o código de toque”. Obviamente que esta reflexão foi proporcionada também pela preparação do workshop que mais tarde daria sobre Massagem do Bebé. E, por me parecer que além de interessante poderia ser uma ferramenta de apoio aos recém pais e cuidadores, decide partilhá-la.
Não é necessário ser pai ou mãe para perceber que um dos principais e privilegiados meios de comunicação com o recém-nascido é o toque pele a pele. Infelizmente é muitas vezes descurado na preocupação constante de manter o bebé aconchegado e quente, mas existem muitas possibilidades, que na consciência da sua importância, são colocadas em prática. Aproveitar a hora da muda da fralda, estipular um momento tranquilo de massagem ou simplesmente tirar partido do tipo de toque, do seu ritmo e intensidade, são óptimas estratégias para que a interacção com o bebé se inicie logo após o nascimento. Foi nessas primeiras horas, de pura contemplação que comecei a tocar suavemente com o meu dedo indicador o nariz minúsculo da minha bebé. E desde então esse é um dos meus principais trunfos para a relaxar e adormecer. Fui também reparando que a avó e o pai tinham outras estratégias… o pai embalava dando suaves palmadinhas e a avó fazia “festinhas” nas bochechas. Todos nós tínhamos formas diferentes de interagir através do toque e todas elas eram eficazes. Ao longo do tempo fui percebendo que aquelas estratégias eram infalíveis se se tratasse do cuidador que as iniciou. Existe, de facto, um código de toque que permite ao bebé desde tenra idade conhecer o cuidador, obviamente com o auxílio das especificidades da voz, do cheiro e da expressão facial. Não devemos descurar o toque na comunicação como o bebé e é sempre benéfico se adoptarmos um toque que nos identifique. O bebé é muito mais do que um ser que como e dorme. Está disponível para entrar em relação desde as primeiras semanas de vida e os cuidadores podem e devem usar todas a estratégias que estiverem ao seu alcance para que a vinculação se inicie e fortaleça. Muito provavelmente ao ler estas palavras tomará consciência de que sempre teve um código de toque com o seu bebé. Fique então a saber que é uma poderosa ferramenta na vinculação ao seu filho. Às mães que se sentem perdidas no cuidado ao recém-nascido, demasiado duvidosas do seu desempenho ou em depressão pós-parto, esta pode ser uma dica de valor. Inicie hoje mesmo um código de toque!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Comunicação com o bebé pré-verbal: A importância das expressões

Compreender as pistas dadas pelo bebé pré-verbal é fundamental. Não só para o cuidador se sentir seguro bem como para o bebé ver reconhecidas as suas emoções e necessidades.
Responda a todas estas expressões faciais. Todas elas são uma forma de comunicação e portanto pistas que deverão ser aproveitadas. Verbalize a sua interpretação, adaptando o tom de voz e aja em consonância. 
1.Medo: Canto da boca retraído. Sobrancelhas para dentro ligeiramente subidas
2.Dor/Desconforto: Olhos bem fechados, boca quadrada e angular
3.Tristeza: Cantos internos das sobrancelhas levantados, cantos da boca alongados para baixo
4.Surpresa: Sobrancelhas erguidas, olhos arregalados, boca arredondada em forma oval. 
Embale na tristeza, securize no medo, contenha no desconforto e imite a expressão de surpresa associando um sorriso ou descrição do que está a acontecer.

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