quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A intuição pe(r)dida na parentalidade

A intuição, aliada da parentalidade, é uma das melhores ferramentas que um cuidador pode ter. Infelizmente muitos pais, emocionalmente equilibrados, têm muita dificuldade, por um lado, em sentir essa intuição e, por outro, em a colocar na prática. Há sempre o pediatra à distância de uma chamada, há sempre a avó que tem mais experiência e por fim, talvez o elemento mais importante, a insegurança e a incerteza. Sentimos, inevitavelmente, que em alguma altura podemos falhar e simplesmente nós não queremos isso. É interessante reparar que muitas são as vezes que, ouvido o conselho do pediatra ou de um familiar próximo, a decisão tomada é muitas vezes diferente e, tirando raras excepções, é aquela que inicialmente se pensou. Certa ou errada é a que a intuição ditou. Por isso, ela existe, está lá, só não está a ser valorizada. Poderá contra-argumentar, “mas muitas vezes não foi a melhor decisão!”, dar-lhe-ei razão, mas esse é sempre o mote de mudança. Ela só existe, quando se sente o desconforto do fracasso de uma atitude tomada… Só crescemos enquanto pais, quando abraçarmos e nos entregarmos à intuição que um dia, agradavelmente se transformará em bom senso. Ignorar o sexto sentido de mãe, cuidador, é retirar o afecto da relação, é seguir regras e conselhos em “piloto automático” sem se deixar envolver, no caldo mágico que é a relação com um filho.
*

O que constrói essa relação, e permite que se fortaleça sob alicerces bem seguros, é a espontaneidade sem freio nem receio. É a entrega, na certeza de que será sempre o melhor que sabe e sente. A parentalidade é a viagem mais rica e transformadora a que se propôs. É a mais exigente mas a mais fascinante, a que tem a força de construir pessoas. As que um dia estarão a cuidar do nosso planeta nas suas mais variadas vertentes.


Considero que ser mãe e pai é a tarefa de maior responsabilidade que temos, certamente muito mais relevante do que aquelas que estão escritas em papel quando chegamos ao escritório. Esta está escrita com a linguagem do afecto, do comprometimento e da entrega e jamais resultará se tentar copiar a estratégia do colega do lado. Por isso, confie na sua intuição e, tal como os melhores pediatras, acredite na importância do que “a mãe acha”.
*Imagem retirada da Internet

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Quando os bebés descobrem que o choro amolece o coração dos pais – Reflexões de uma mãe psicóloga

O choro é sempre uma forma de comunicação do bebé. Inicialmente dá-nos conta do desconforto, provocado pela fome, por uma fralda suja ou pelas cólicas típicas dos primeiros meses de vida. No entanto, por volta do 4 mês, já neste blogue falado, surgem outras emoções derivadas desta angústia. Nesta altura o bebé começa a perceber o efeito que, a demonstração dessas emoções negativas, têm no adulto. A minha filha apercebeu-se recentemente que se chorasse vigorosamente, um choro gritado, era facilmente acudida pelo cuidador que estivesse mais próximo. Esta aprendizagem foi rápida e ainda que tivesse ocorrido espontaneamente, rapidamente se tornou o seu trunfo. É natural que os bebés gostem de colo e mimo, é natural e esperado que demonstrem satisfação quando são acarinhados, no entanto, permitirmos que a moeda de troca seja o choro é certo e sabido que estaremos a promover uma excessiva dependência, limitadora de novas descobertas, mesmo em idades tão tenras como os 5 meses.

*

Até aos 3 meses, todo o choro deverá ter resposta, o bebé deve ser sempre confortado porque até lá dificilmente se acalma e sossega na ausência de um adulto atento e cuidador. A partir desta altura, o bebé já se autoconsola e portanto possui uma estrutura psicológica que lhe permite lidar com um desconforto superficial. Obviamente que se está doente ou especialmente vulnerável em determinado dia então, deverá ser nessa altura, mais acarinhado. Salvo estas excepções permita que o bebé chore, se adapte ele mesmo a estas emoções e aprenda a reconfortar-se e redireccionar a atenção. Como cuidador, deverá sempre traduzir em palavras o que o bebé demonstra. Poderá dizer, “estás aborrecido, esse choro é de estares chateado” e redireccione, “e se a mamã te der este brinquedo, podes sempre te distrair”. Se não resultar inclua-se na brincadeira sem pegar no bebé. “Eu acho que precisas da ajuda da mamã” e opte por aquela que sabe que o bebé gosta. A minha filha adora ouvir músicas e que se assobie a melodia, fica entretida e imita a expressão do cuidador.


Associado a esta dificuldade muito presente nos cuidadores, a incerteza de acudir a todo e qualquer choro, surge um outro elemento que dificulta a serenidade e tranquilidade da parentalidade. Os intercomunicadores! Conheço muitas mães que se deixam enfeitiçar por este pequeno auxiliador, que deixa de o ser, quando é usado excessivamente e com a finalidade de acompanhar cada suspiro do bebé e socorrer o mínimo sinal de desconforto. O ideal é que se esqueça que o tem por perto e só se lembre dele quando o bebé começa a despertar e a fazer os sons típicos desta fase do sono. Nessa altura, dê espaço ao bebé, permita que esse seja um tempo só seu. Mesmo que à mistura surja um choro, lembre-se que nem sempre acorda bem disposta, por isso permita que o bebé desperte completamente e se aperceba que está na sua cama, no quarto onde adormeceu. Se nessa altura se entreter com alguma imagem ou brinquedo, espere até que se aborreça. Socorrer o bebé a cada instante, não dando oportunidade que ele próprio se aperceba do seu desconforto não permite um desenvolvimento salutar e transmite-lhe insegurança e receio. O que o bebé percebe é que “se estás aqui mal choro então não é suposto eu entreter-me sozinho e lidar com as minhas emoções”. O choro pode ser potencialmente desorganizador para os cuidadores e todos os bebés são diferentes. O importante é que conheça as pistas do seu bebé e perceba também o efeito que têm em si. Nessa altura será mais fácil, e intuitivo, perceber a melhor estratégia. Lembre-se, a impulsividade não é amiga da parentalidade. A tranquilidade, essa sim, poderá ser uma excelente aliada. 
*Imagem retirada da Internet

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Com o brincar não se brinca!

Frequentemente na consulta psicológica os pais referem que não brincam com os filhos. O mais habitual é justificarem com a falta de tempo, deles e dos mais pequenos… Alguns pais ficam surpreendidos com a pergunta e acham que não é relevante partilharem esse momento com os filhos. Quanto ao brincar, esse tem costas largas, pode ser ver televisão, jogar na playstation ou montar um puzzle. É importante diferenciar conceitos. Jogar pressupõe seguir uma série de regras que permite organizar e estruturar uma actividade de início ao fim. O jogo tem sempre um objectivo final, são poucos aqueles que não envolvem um vencedor e um vencido. Os jogos são importantes porque ensinam regras, o respeito pela vez do outro e exigem a capacidade de planeamento, pensar e pôr em prática estratégias. Alguns permitem o desenvolvimento de competências mais específicas como a memória visual, a concentração, a orientação visuo-espacial, etc.
O brincar esse é livre, não tem guião nem leme orientador. Surge da capacidade imaginativa da criança que se entrega por inteiro à sua fantasia. Nele concretiza os seus maiores medos e as suas maiores admirações. Nele a criança projecta o amanhã e vive o presente. Ensaia a vida sem nunca se comprometer, começa uma história que poderá não ter fim… O brincar é indispensável ao desenvolvimento emocional. Uma criança que não brinca dá-nos conta da sua débil saúde mental, alerta-nos para a urgência do seu acompanhamento psicológico. O brincar permite à criança, o desenvolvimento de áreas cerebrais que serão fundamentais à aprendizagem de conteúdos formais, na escola. Desta forma, não há como fugir! As crianças têm de brincar, esse não é o seu tempo de descanso mas sim o tempo de construção, de expressão e desenvolvimento. Brincar não é perder tempo, é permitir à criança construir os alicerces para amanhã se tornar um adulto feliz e responsável.


Incluir os pais na brincadeira é como juntar calda de açúcar a um bolo. Mas atenção, brincar a sério! Entrar no mundo de fantasia da criança, e desinibir os movimentos, destravar a língua e entregar-se a uma gargalhada sentida! Se ficar exausto, com dor de costas e não conseguir apagar o sorriso que se instalou, então fique a saber que está de parabéns. Também aos adultos faz bem brincar. Relembra questões bem pertinentes, as quais se esquecem pela frieza do dia-a-dia demasiado real e duro. O brincar partilhado pode ser apenas de 15, 20 minutos. Mas as crianças precisam de mais tempo, sozinhas, acompanhadas pelos irmãos ou amigos…


Lembre-se que o brincar não exige uma montanha de brinquedos! Poderá até nem envolver qualquer objecto… Mas essa decisão cabe apenas à criança, decidir a que quer brincar e como o fazer. O adulto não dá respostas, não impõe brincadeiras ou conduz o brincar. Nas crianças mais indecisas o adulto pode ajudar a organizar o pensamento, questionando, “diz-me lá a que vamos brincar”, “a que te apetece brincar?”, sem sugerir ou impor soluções. É difícil mas como em tudo o treino melhora a função. Quantas mais vezes se entregar ao brincar mais fácil será se envolver verdadeiramente. Experimente! E lembre-se, o seu filho tem de brincar, não é uma escolha é simplesmente assim…

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A parentalidade exige responsabilidade, equilíbrio e tranquilidade – Reflexão de uma mãe psicóloga

Esta semana, quando fomos à USF (Unidade Saúde Familiar) para a bebé ser vacinada, ouvi mais do que uma vez, “tadinha, vai à pica!”, “ui, o terror das vacinas!”. Em conversa com a Pediatra percebi que são inúmeros os pais que ficam ansiosos com o momento da vacinação, que choram e se afligem com o sofrimento dos mais pequenos, ainda que este seja sinónimo de protecção contra variadíssimas doenças, muitas delas potencialmente letais. A Enfermeira e a Pediatra rapidamente faziam o reparo às bocas alheias, com uma assertividade exemplar, fruto da prática diária e vasta experiência mas é com alguma surpresa e dificuldade que tento compreender e encontrar possíveis justificações. Ser pai, ser mãe exige responsabilidade, equilíbrio e tranquilidade. Só com estes ingredientes estaremos a cuidar verdadeiramente do futuro dos nossos filhos, da sua saúde física e mental, promotora da estabilidade necessária para fintar os percalços da vida e manter a perseverança necessária à concretização dos objectivos pessoais, profissionais e familiares.

*


Nos primeiros anos de vida dos filhos, o que sentimos e transparecemos é aquilo que lhes oferecemos. Poderá ser um presente valiosíssimo ou um presente envenenado. As crianças, essas confiam cegamente nos cuidadores, por isso estão certas de que aquilo que a mãe e o pai lhes oferecem deve ser abraçado e vivido plenamente. Se ao entrarmos num gabinete de enfermagem, com o nosso filho ao colo, chorarmos como se o mundo fosse desabar então aquilo que estamos a comunicar é exactamente isso, o mundo está prestes a ruir e eu estou em pânico! Não nos podemos admirar que amanhã o nosso filho não queira entrar na sala de enfermagem, acabamos de lhe ensinar que lá dentro coisas muito más acontecem, tão más que eu que sou tua mãe, e te devo proteger, não me consegui aguentar. E como este exemplo há inúmeros. Ser mãe e pai é das tarefas mais exigentes a que nos propomos, e para que seja bem sucedida deverá ser altruísta. É também disfarçar o indisfarçável, é sentir receio do futuro mas ainda assim fazer do dia-a-dia um conjunto harmoniosos de rotinas que a criança anseia viver, experimentar e desafiar. A partilha verdadeira dos nossos sentimentos mais sombrios, essa deve ficar para mais tarde, altura em que a criança já possui uma estrutura psicológica que suporte perceber que o pai e a mãe também são pessoas vulneráveis, nem sempre seguras de si! Até lá, a sua auto-estima, a sua segurança só é possível através dos cuidadores. Se for um pai demasiado ansioso, que limita toda e qualquer experiência do seu filho com receio que se magoe, fique a saber que está a encurtar drasticamente o leque de vivências que garantem um desenvolvimento neuropsicológico salutar. Ser mãe e pai é também assistir a quedas, algumas feias, e estar lá, seguro e tranquilo para cuidar e mimar. É difícil? Muito! Mas ninguém disse que era fácil… Erramos muitas vezes? Claro que sim, e é esse o mote da mudança, de aperfeiçoamento do nosso papel enquanto pais. Desengane-se quem se acha perfeito, uma mãe e um pai crescem a par dos filhos. 
* Imagem retirada da Internet

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails