sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A parentalidade exige responsabilidade, equilíbrio e tranquilidade – Reflexão de uma mãe psicóloga

Esta semana, quando fomos à USF (Unidade Saúde Familiar) para a bebé ser vacinada, ouvi mais do que uma vez, “tadinha, vai à pica!”, “ui, o terror das vacinas!”. Em conversa com a Pediatra percebi que são inúmeros os pais que ficam ansiosos com o momento da vacinação, que choram e se afligem com o sofrimento dos mais pequenos, ainda que este seja sinónimo de protecção contra variadíssimas doenças, muitas delas potencialmente letais. A Enfermeira e a Pediatra rapidamente faziam o reparo às bocas alheias, com uma assertividade exemplar, fruto da prática diária e vasta experiência mas é com alguma surpresa e dificuldade que tento compreender e encontrar possíveis justificações. Ser pai, ser mãe exige responsabilidade, equilíbrio e tranquilidade. Só com estes ingredientes estaremos a cuidar verdadeiramente do futuro dos nossos filhos, da sua saúde física e mental, promotora da estabilidade necessária para fintar os percalços da vida e manter a perseverança necessária à concretização dos objectivos pessoais, profissionais e familiares.

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Nos primeiros anos de vida dos filhos, o que sentimos e transparecemos é aquilo que lhes oferecemos. Poderá ser um presente valiosíssimo ou um presente envenenado. As crianças, essas confiam cegamente nos cuidadores, por isso estão certas de que aquilo que a mãe e o pai lhes oferecem deve ser abraçado e vivido plenamente. Se ao entrarmos num gabinete de enfermagem, com o nosso filho ao colo, chorarmos como se o mundo fosse desabar então aquilo que estamos a comunicar é exactamente isso, o mundo está prestes a ruir e eu estou em pânico! Não nos podemos admirar que amanhã o nosso filho não queira entrar na sala de enfermagem, acabamos de lhe ensinar que lá dentro coisas muito más acontecem, tão más que eu que sou tua mãe, e te devo proteger, não me consegui aguentar. E como este exemplo há inúmeros. Ser mãe e pai é das tarefas mais exigentes a que nos propomos, e para que seja bem sucedida deverá ser altruísta. É também disfarçar o indisfarçável, é sentir receio do futuro mas ainda assim fazer do dia-a-dia um conjunto harmoniosos de rotinas que a criança anseia viver, experimentar e desafiar. A partilha verdadeira dos nossos sentimentos mais sombrios, essa deve ficar para mais tarde, altura em que a criança já possui uma estrutura psicológica que suporte perceber que o pai e a mãe também são pessoas vulneráveis, nem sempre seguras de si! Até lá, a sua auto-estima, a sua segurança só é possível através dos cuidadores. Se for um pai demasiado ansioso, que limita toda e qualquer experiência do seu filho com receio que se magoe, fique a saber que está a encurtar drasticamente o leque de vivências que garantem um desenvolvimento neuropsicológico salutar. Ser mãe e pai é também assistir a quedas, algumas feias, e estar lá, seguro e tranquilo para cuidar e mimar. É difícil? Muito! Mas ninguém disse que era fácil… Erramos muitas vezes? Claro que sim, e é esse o mote da mudança, de aperfeiçoamento do nosso papel enquanto pais. Desengane-se quem se acha perfeito, uma mãe e um pai crescem a par dos filhos. 
* Imagem retirada da Internet

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