quinta-feira, 29 de abril de 2010

A criança e a mentira I

Quando as crianças ocultam a verdade ou mentem os pais preocupados, recorrem com frequência à consulta de psicologia.

A compreensão da verdade está relacionada com o desenvolvimento infantil. Antes dos 3 anos de idade as crianças consideram que os adultos, nomeadamente os cuidadores, conseguem ler os seus pensamentos por incompreensão da sua privacidade. É portanto, por volta dos 3-4 anos, período coincidente com uma forte imaginação, que as mentiras surgem. Nesta altura, a criança percebe que o adulto não tem acesso ao que pensa e testa a aquisição de novos conhecimentos através da narração de histórias ou simplesmente procura justificações para as suas acções em motivos fantasiados, repletos de imaginação. Por exemplo, justificando a desarrumação do quarto culpando o lobo mau que desarrumou os brinquedos. A separação entre realidade e fantasia pode ser ténue e portanto as mentiras podem surgir num contexto de actividade imaginativa que não deve ser punida; os amigos imaginários são um óptimo exemplo.

Dos 4 aos 6 anos mentem com maior frequência, aos 4 ao ritmo de 2 horas e aos 6 de 90 minutos. Nesta altura, com um vocabulário mais rico e melhor compreensão do comportamento dos outros a mentira torna-se mais complexa e sofisticada. Nos primeiros anos escolares a criança deseja agradar os pais mais do que fazer o que é correcto surgindo frequentemente mentiras que permitem ir ao encontro das expectativas parentais.

Aos 8-9 anos a mentira surge por outros motivos uma vez que a diferenciação entre realidade e fantasia já se encontra suficientemente estruturada. Nestas faixas etárias, as histórias elaboradas parecem credíveis, são relatadas de forma entusiástica mas porque os torna alvo de atenção à medida que a mentira é contada. Este pode ser um motivo de preocupação para os pais dado que são indicadores do uso de meios inadequados para a obtenção de atenção e valorização.

As mentiras podem ainda surgir como resultado de uma baixa auto-estima; por um desejo acentuado de que esses fossem factos reais ou de forma a evitar futuras punições (por exemplo, mentir acerca de uma classificação de um teste de forma a manter as actividades programadas para o fim de semana).

Os adolescentes podem mentir para encobrir um problema sério tal como o abuso de álcool ou drogas escondendo repetidamente a verdade acerca de onde estiveram, com quem e o que fizeram. No entanto podem apenas fazê-lo como forma de protecção da crescente necessidade de privacidade, permitindo-lhes que se sintam psicologicamente independentes dos seus pais.

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