A propósito da Páscoa e de outras
alturas do ano semelhantes, como o Natal, em que as crianças esperam receber
presentes, tenha especial atenção à mensagem que pretende passar aos seus
filhos e principalmente à angústia crescente do “ter”.
É normal, nestes dias, e saudável
existir um pequeno miminho/surpresa que provoca uma ansiedade saudável por um
momento que se avizinha especial. Este presente deve ser dado num ambiente de
tranquilidade e incluído num tempo partilhado repleto de afecto, comunicação e
cumplicidade. Se pelo contrário, o cenário for de excitação, angústia e euforia
então o presente/surpresa estará sempre associado a estas mesmas emoções, à
necessidade de “ter” algo com a finalidade de preenchimento causada pela
sensação de vazio que a angústia naturalmente causa.
Imagine que a sua surpresa é um
livro, então o presente será lê-lo em família no chão da sala onde
confortavelmente todos se sentam formando um círculo. Quanto mais pessoas se
juntarem a este momento, melhor, mais esta surpresa será assimilada no gosto
crescente da partilha com os outros, na conquista de laços emocionais que permitem
relações maduras e próximas.
Imagine agora que o seu presente
é um jogo de computador. Não será difícil prever o que acontecerá no momento
seguinte. Toda a atenção será direccionada a um ecrã de televisão numa
actividade pouco estimulativa e na maioria das vezes impeditiva da comunicação
e relação com os outros.
Na altura de escolher um presente
para uma criança, seja familiar ou amigo, pense no que será ideal para ela,
para o seu desenvolvimento e amadurecimento. Não questione as suas características
mas sim as suas potencialidades; será um bom instrumento de mediação
relacional, estimulativo ou promotor do desenvolvimento? Não se questione se
estará na lista interminável de brinquedos que lhe foi entregue ou descrita, se
será ou não do seu agrado. Somos nós, enquanto adultos que criamos os hábitos,
interesses e gostos dos mais pequenos. E nunca é tarde demais, temos sempre a
nosso favor a enorme plasticidade cerebral das crianças. Falta saber se nos
aventuramos no desconforto da mudança ou se nos acomodamos ao que se tornou um
hábito…
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