Esta semana, quando fomos à USF
(Unidade Saúde Familiar) para a bebé ser vacinada, ouvi mais do que uma vez, “tadinha,
vai à pica!”, “ui, o terror das vacinas!”. Em conversa com a Pediatra percebi
que são inúmeros os pais que ficam ansiosos com o momento da vacinação, que
choram e se afligem com o sofrimento dos mais pequenos, ainda que este seja
sinónimo de protecção contra variadíssimas doenças, muitas delas potencialmente
letais. A Enfermeira e a Pediatra rapidamente faziam o reparo às bocas alheias,
com uma assertividade exemplar, fruto da prática diária e vasta experiência mas
é com alguma surpresa e dificuldade que tento compreender e encontrar possíveis
justificações. Ser pai, ser mãe exige responsabilidade, equilíbrio e
tranquilidade. Só com estes ingredientes estaremos a cuidar verdadeiramente do
futuro dos nossos filhos, da sua saúde física e mental, promotora da
estabilidade necessária para fintar os percalços da vida e manter a perseverança
necessária à concretização dos objectivos pessoais, profissionais e familiares.
Nos primeiros anos de vida dos
filhos, o que sentimos e transparecemos é aquilo que lhes oferecemos. Poderá
ser um presente valiosíssimo ou um presente envenenado. As crianças, essas
confiam cegamente nos cuidadores, por isso estão certas de que aquilo que a mãe
e o pai lhes oferecem deve ser abraçado e vivido plenamente. Se ao entrarmos
num gabinete de enfermagem, com o nosso filho ao colo, chorarmos como se o
mundo fosse desabar então aquilo que estamos a comunicar é exactamente isso, o
mundo está prestes a ruir e eu estou em pânico! Não nos podemos admirar que
amanhã o nosso filho não queira entrar na sala de enfermagem, acabamos de lhe
ensinar que lá dentro coisas muito más acontecem, tão más que eu que sou tua
mãe, e te devo proteger, não me consegui aguentar. E como este exemplo há inúmeros.
Ser mãe e pai é das tarefas mais exigentes a que nos propomos, e para que seja
bem sucedida deverá ser altruísta. É também disfarçar o indisfarçável, é sentir
receio do futuro mas ainda assim fazer do dia-a-dia um conjunto harmoniosos de
rotinas que a criança anseia viver, experimentar e desafiar. A partilha verdadeira
dos nossos sentimentos mais sombrios, essa deve ficar para mais tarde, altura
em que a criança já possui uma estrutura psicológica que suporte perceber que o
pai e a mãe também são pessoas vulneráveis, nem sempre seguras de si! Até lá, a
sua auto-estima, a sua segurança só é possível através dos cuidadores. Se for
um pai demasiado ansioso, que limita toda e qualquer experiência do seu filho
com receio que se magoe, fique a saber que está a encurtar drasticamente o
leque de vivências que garantem um desenvolvimento neuropsicológico salutar. Ser
mãe e pai é também assistir a quedas, algumas feias, e estar lá, seguro e
tranquilo para cuidar e mimar. É difícil? Muito! Mas ninguém disse que era
fácil… Erramos muitas vezes? Claro que sim, e é esse o mote da mudança, de
aperfeiçoamento do nosso papel enquanto pais. Desengane-se quem se acha perfeito,
uma mãe e um pai crescem a par dos filhos.
* Imagem retirada da Internet
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