terça-feira, 19 de novembro de 2013

Quando os bebés descobrem que o choro amolece o coração dos pais – Reflexões de uma mãe psicóloga

O choro é sempre uma forma de comunicação do bebé. Inicialmente dá-nos conta do desconforto, provocado pela fome, por uma fralda suja ou pelas cólicas típicas dos primeiros meses de vida. No entanto, por volta do 4 mês, já neste blogue falado, surgem outras emoções derivadas desta angústia. Nesta altura o bebé começa a perceber o efeito que, a demonstração dessas emoções negativas, têm no adulto. A minha filha apercebeu-se recentemente que se chorasse vigorosamente, um choro gritado, era facilmente acudida pelo cuidador que estivesse mais próximo. Esta aprendizagem foi rápida e ainda que tivesse ocorrido espontaneamente, rapidamente se tornou o seu trunfo. É natural que os bebés gostem de colo e mimo, é natural e esperado que demonstrem satisfação quando são acarinhados, no entanto, permitirmos que a moeda de troca seja o choro é certo e sabido que estaremos a promover uma excessiva dependência, limitadora de novas descobertas, mesmo em idades tão tenras como os 5 meses.

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Até aos 3 meses, todo o choro deverá ter resposta, o bebé deve ser sempre confortado porque até lá dificilmente se acalma e sossega na ausência de um adulto atento e cuidador. A partir desta altura, o bebé já se autoconsola e portanto possui uma estrutura psicológica que lhe permite lidar com um desconforto superficial. Obviamente que se está doente ou especialmente vulnerável em determinado dia então, deverá ser nessa altura, mais acarinhado. Salvo estas excepções permita que o bebé chore, se adapte ele mesmo a estas emoções e aprenda a reconfortar-se e redireccionar a atenção. Como cuidador, deverá sempre traduzir em palavras o que o bebé demonstra. Poderá dizer, “estás aborrecido, esse choro é de estares chateado” e redireccione, “e se a mamã te der este brinquedo, podes sempre te distrair”. Se não resultar inclua-se na brincadeira sem pegar no bebé. “Eu acho que precisas da ajuda da mamã” e opte por aquela que sabe que o bebé gosta. A minha filha adora ouvir músicas e que se assobie a melodia, fica entretida e imita a expressão do cuidador.


Associado a esta dificuldade muito presente nos cuidadores, a incerteza de acudir a todo e qualquer choro, surge um outro elemento que dificulta a serenidade e tranquilidade da parentalidade. Os intercomunicadores! Conheço muitas mães que se deixam enfeitiçar por este pequeno auxiliador, que deixa de o ser, quando é usado excessivamente e com a finalidade de acompanhar cada suspiro do bebé e socorrer o mínimo sinal de desconforto. O ideal é que se esqueça que o tem por perto e só se lembre dele quando o bebé começa a despertar e a fazer os sons típicos desta fase do sono. Nessa altura, dê espaço ao bebé, permita que esse seja um tempo só seu. Mesmo que à mistura surja um choro, lembre-se que nem sempre acorda bem disposta, por isso permita que o bebé desperte completamente e se aperceba que está na sua cama, no quarto onde adormeceu. Se nessa altura se entreter com alguma imagem ou brinquedo, espere até que se aborreça. Socorrer o bebé a cada instante, não dando oportunidade que ele próprio se aperceba do seu desconforto não permite um desenvolvimento salutar e transmite-lhe insegurança e receio. O que o bebé percebe é que “se estás aqui mal choro então não é suposto eu entreter-me sozinho e lidar com as minhas emoções”. O choro pode ser potencialmente desorganizador para os cuidadores e todos os bebés são diferentes. O importante é que conheça as pistas do seu bebé e perceba também o efeito que têm em si. Nessa altura será mais fácil, e intuitivo, perceber a melhor estratégia. Lembre-se, a impulsividade não é amiga da parentalidade. A tranquilidade, essa sim, poderá ser uma excelente aliada. 
*Imagem retirada da Internet

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