Frequentemente na consulta
psicológica os pais referem que não brincam com os filhos. O mais habitual é justificarem
com a falta de tempo, deles e dos mais pequenos… Alguns pais ficam surpreendidos
com a pergunta e acham que não é relevante partilharem esse momento com os
filhos. Quanto ao brincar, esse tem costas largas, pode ser ver televisão,
jogar na playstation ou montar um puzzle. É importante diferenciar conceitos.
Jogar pressupõe seguir uma série de regras que permite organizar e estruturar
uma actividade de início ao fim. O jogo tem sempre um objectivo final, são
poucos aqueles que não envolvem um vencedor e um vencido. Os jogos são
importantes porque ensinam regras, o respeito pela vez do outro e exigem a
capacidade de planeamento, pensar e pôr em prática estratégias. Alguns permitem
o desenvolvimento de competências mais específicas como a memória visual, a
concentração, a orientação visuo-espacial, etc.
O brincar esse é livre, não tem
guião nem leme orientador. Surge da capacidade imaginativa da criança que se
entrega por inteiro à sua fantasia. Nele concretiza os seus maiores medos e as
suas maiores admirações. Nele a criança projecta o amanhã e vive o presente.
Ensaia a vida sem nunca se comprometer, começa uma história que poderá não ter
fim… O brincar é indispensável ao desenvolvimento emocional. Uma criança que
não brinca dá-nos conta da sua débil saúde mental, alerta-nos para a urgência do
seu acompanhamento psicológico. O brincar permite à criança, o desenvolvimento
de áreas cerebrais que serão fundamentais à aprendizagem de conteúdos formais,
na escola. Desta forma, não há como fugir! As crianças têm de brincar, esse não
é o seu tempo de descanso mas sim o tempo de construção, de expressão e
desenvolvimento. Brincar não é perder tempo, é permitir à criança construir os
alicerces para amanhã se tornar um adulto feliz e responsável.
Incluir os pais na brincadeira é
como juntar calda de açúcar a um bolo. Mas atenção, brincar a sério! Entrar no
mundo de fantasia da criança, e desinibir os movimentos, destravar a língua e
entregar-se a uma gargalhada sentida! Se ficar exausto, com dor de costas e não
conseguir apagar o sorriso que se instalou, então fique a saber que está de
parabéns. Também aos adultos faz bem brincar. Relembra questões bem
pertinentes, as quais se esquecem pela frieza do dia-a-dia demasiado real e
duro. O brincar partilhado pode ser apenas de 15, 20 minutos. Mas as crianças
precisam de mais tempo, sozinhas, acompanhadas pelos irmãos ou amigos…
Lembre-se que o brincar não exige
uma montanha de brinquedos! Poderá até nem envolver qualquer objecto… Mas essa
decisão cabe apenas à criança, decidir a que quer brincar e como o fazer. O
adulto não dá respostas, não impõe brincadeiras ou conduz o brincar. Nas
crianças mais indecisas o adulto pode ajudar a organizar o pensamento,
questionando, “diz-me lá a que vamos brincar”, “a que te apetece brincar?”, sem
sugerir ou impor soluções. É difícil mas como em tudo o treino melhora a
função. Quantas mais vezes se entregar ao brincar mais fácil será se envolver
verdadeiramente. Experimente! E lembre-se, o seu filho tem de brincar, não é uma
escolha é simplesmente assim…
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